Falso documentário que "desvenda" plano de destruir a MPB.

Firewood Operation: como os EUA tentaram acabar com a música brasileira

by marcos lauro
Todos sabem que os EUA meteram o bedelho na política brasileira e deram a maior força para a ditadura militar. Só que um vídeo impressionante detalha a invasão norte-americana em outro setor do nosso país: a música!
Com base no livro “Firewood Operation”, de Neil Jackman, a produtora Noizy Pictures relatou testemunhos dessa invasão. No vídeo abaixo, os compositores Michael Sullivan e Paulo Massadas são desmascarados como agentes que vieram para o Brasil com a finalidade de destruir a música brasileira, injetando aqui a cultura norte-americana. Assim, artistas como Sergio Mallandro e os grupos Dominó e Balão Mágico não passaram de fantoches nas mãos da inteligência estrangeira. Ainda nos anos 1990, Compadre Washington, um porto-riquenho criado em Washington D.C. (por isso o apelido), vinha ao Brasil para destruir uma linhagem do axé que nascia para valorizar a moral, a família e os bons costumes.
Em menos de 20 minutos, a competente equipe de documentaristas desvenda todo o mistério por trás de “Firewood Operation”.

(Link do vídeo no fim da publicação. Estranhamente não consegui posta-lo aqui).
Um dos compositores de maior sucesso no Brasil, Michael Sullivan tem seu passado - ao lado de toda a produção musical brasileira da década de 1980 - colocado em xeque no documentário de curta-metragem "MPB: A história que o Brasil não conhece". O vídeo, que circula na internet desde abril, é baseado no livro "Firework Operation", de Neil Jackman, e revela um plano maquiavélico do governo americano, desconhecido por boa parte dos brasileiros: a destruição da música brasileira.
Sullivan não seria apenas o compositor, ao lado de Paulo Massadas, de "Um Dia de Domingo", "Whisky a Go-Go" e tantas outras versões para trilhas de novelas e grupos musicais infantis, mas um dos agentes infiltrados pelos Estados Unidos no país com esse objetivo. Ele não estaria sozinho. Outros teriam sido espalhados com a mesma missão: Oswaldo Montenegro em Brasília, Humberto Gessinger no Rio Grande do Sul e Compadre Washington na Bahia.
Na verdade, tudo não passa de uma piada muito bem feita. O que o diretor André Moraes fez foi um mockumentary, um falso documentário, narrado pelo ator Caco Ciocler, que, como pede a proposta, tem iludido muita gente. "Cara, é uma loucura. Tem gente que entrou na história. É um curta conspiratório apenas. Estamos fazendo essa brincadeira com um livro que não existe, mas isso não importa, é para refletir sobre a nossa música", explica em entrevista ao UOL.
Com depoimentos e relatos de músicos de várias vertentes, como Iggor Cavalera, Jair de Oliveira e Beto Jamaica, o filme despertou reações pela web e um blogueiro chegou a divulgar o curta com uma falsa notícia: "Lançado em 2011, (o curta) quase não foi a cartaz. Ligações anônimas e perseguições ao diretor tornaram tensas as gravações".
Os depoimentos de quem viveu a história inventada ou teve acesso ao fictício livro são tão escabrosos como engraçadas. Sergio Mallandro afirma que foi obrigado ainvestir na carreira de cantor e inserir seu já característico "glu glu" para ser mais um soldado na guerra para emburrecer a música brasileira.
Beto Jamaica e Reinaldo, ex-vocalistas do É o Tchan! e do Terrasamba, contam que Compadre Washington tem esse sobrenome por ter nascido na capital americana. Em uma das melhores cenas do filme, um integrante do grupo Swingue Maneiro chora ao dizer que foi torturado por tentar introduzir o tema família no gênero axé. "Cada integrante foi colocado em um canto para que não conseguíssemos nos reunir mais", explica. Axé, inclusive, seria uma abreviação de "America Exterminate Your Ears" (América Extermina seus Ouvidos").

A ORIGEM DA "CONSPIRAÇÃO"

Reprodução
André Moraes veio do cinema (o pai Geraldo Moraes é diretor, o irmão Bruno interpreta Fê Lemos no filme "Somos Tão Jovens" e ele mesmo foi responsável pela trilha sonora de "Assalto ao Banco Central") e teve a ideia quando sentou no sofá para assistir clipes na MTV. Em vão. "Como é que uma TV que tem música no nome não passa clipes? Só podia ser conspiração", conta, aos risos.
Com a ajuda de amigos, André Moraes mostrou o resultado da brincadeira pela primeira vez na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2011. "As pessoas se identificaram com o curta, mais do que eu imaginava. Mas ficamos um tempo com ele parado, sem saber o que fazer".
Ao subir o vídeo no YouTube, no começo deste ano, para mostrar a um amigo, esqueceu de publicar no perfil fechado. Ficou sabendo do sucesso com um telefonema de Simoninha. "Ele me ligou: 'Rapaz, o que você fez com o vídeo? Está todo mundo me ligando para saber dessa conspiração'. Até a Margareth Menezes me ligou, pirada no filme, dizendo: 'é do c****, quero dar meu depoimento, quero ler o livro'".
Surgiu, então, a ideia de transformar o assunto em uma série.  "Agora, toda semana vai ter um capítulo. Temos um depoimento revelador do ator Vinícius de Oliveira (do filme "Central do Brasil"), que conheceu Neil Jackman , escritor do livro, no Oscar. E o 'Firework Operation' vai finalmente sair no Brasil", avisa André.
Claro que tudo isso é uma obra de ficção. O diretor André Moraes pegou na veia do que a gente chama de “jornalismo mentira”, que bomba hoje principalmente na internet mas já foi bastante praticado na TV por programas como TV Pirata e Casseta & Planeta.
O mais legal: tem depoimentos de alguns dos próprios artistas envolvidos na “trama”, que compraram a ideia e participaram da brincadeira, contando como eram vítimas do esquemão norte-americano.
Como já cantou Tom Zé:
Todo compositor brasileiro
é um complexado.
Por que então esta mania danada,
esta preocupação
de falar tão sério,
de parecer tão sério
de ser tão sério
de sorrir tão sério
de chorar tão sério
de brincar tão sério
de amar tão sério?
Ai, meu Deus do céu,
vai ser sério assim no inferno!
Ver caras como Jair Oliveira e Iggor Cavalera participando da história é um oásis no meio desse monte de artista que se leva tão a sério, muitas vezes sem necessidade.

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