HISTÓRIA: Sob a mira dos fuzis, Câmara apoia regime militar
HISTÓRIA: Sob a mira dos fuzis, Câmara apoia regime militar
*Fábio Sena
Em 31 de março de 1964, os militares assumem o governo brasileiro por meio de um golpe. As Forças Armadas depuseram o presidente eleito João Goulart – o popular Jango – e assumiram o poder. Institui-se então a Ditadura Militar, regime de exceção que vigoraria no país até 1985 e deixaria suas marcas indeléveis. Após o Golpe, que os militares cinicamente denominaram de “Revolução”, o ambiente político nacional é marcado por intensa perseguição às personalidades que se opunham ideologicamente ao regime. Os efeitos daninhos da nova ordem chegariam dias depois a todos os cantos do Brasil, inclusive à Bahia, e a Vitória da Conquista.
O momento histórico é muito confuso, singular e difícil, e também crucial para notar o jogo do poder nos âmbitos federal e local. Num primeiro momento, o alto comando das forças militares têm objetivamente o papel de desestimular quaisquer pessoas com vínculo ideológico ou partidário a Jango. A conjuntura mundial é bilateral; duas superpotências – Comunismo (União Soviética) e Capitalismo (Estados Unidos) – dominam o mundo. A instabilidade do momento político e histórico preocupa a classe dominante e a burguesia, que temem pela comunização do Brasil, principalmente por causa da postura populista adotada por Jango, que se apresenta com propostas reformistas para o país.
REFLEXOS LOCAIS: O historiador José Alves Dias, que estudou as manifestações de rebeldia contra o regime militar na Bahia, conta que Vitória da Conquista mantinha então posições estratégico-políticas no executivo e no legislativo vinculadas às propostas do governo João Goulart, conhecido popularmente como Jango. Daí porque o alto comando militar envia para Vitória da Conquista um contingente comandado pelo capitão Antônio Bendochi Alves Filho. A tropa se instala nas dependências do 9º Batalhão da Polícia Militar e imediatamente passa a efetuar prisões de diversas pessoas, inclusive do prefeito municipal e de alguns vereadores.
No contexto da luta política pelo poder local, alguns vereadores se apressaram em apresentar Moção de Aplausos às Forças Armadas e ao comandante militar designado para efetuar prisões e presidir os Inquéritos Policiais Militares – os temidos IPM’s. Vereadores como Péricles Gusmão Régis – que morreu nas dependências do 9º BPM – extremamente combativos, diante da pressão e do terror que se apresentavam, não puderam esboçar qualquer reação naquele momento.
A Polícia Militar toma conta das ruas de Vitória da Conquista, onde passa a vigorar um clima de guerra e terror. As alamedas da cidade são ocupadas por tropas fortemente armadas. Isso porque Vitória da Conquista tem um prefeito ligado à sigla PSD, com características similares às de João Goulart, como políticas de reformas de base, e vereadores que acompanham a posição do prefeito, José Pedral Sampaio.
Durante as sessões da Câmara Municipal, quando eram votadas matérias importantes para aquela conjuntura política, como a Moção e o impedimento do prefeito, o prédio era ocupado por contingentes militares intensamente armados, e, contrariando o Regimento Interno do Legislativo Municipal, a votação era nominal. Sendo assim, o autoritarismo militar e o jogo político do poder local amordaçaram os vereadores, que não podiam ter naquele momento uma postura liberal e democrática ou mesmo comprometida com suas ideologias. “Era uma questão de sobrevivência”, como fez questão de salientar o professor José Dias.
No dia 6 de maio de 1964, em sessão presidida por Orlando Leite, a Câmara Municipal vota e aprova o Projeto de Resolução 62/64. A matéria impedia o então prefeito municipal, José Fernandes Pedral Sampaio, de continuar desempenhando suas funções. O presidente da Câmara de Vereadores assume então a condição de chefe do executivo municipal e o já então ex-prefeito passa a responder o inquérito que culminaria na cassação de seus direitos políticos por dez anos.
*Artigo publicado originalmente em 2001
Fonte: http://blogdofabiosena.com.br/v1/historia-sob-a-mira-dos-fuzis-camara-apoia-regime-militar-2/
Em 31 de março de 1964, os militares assumem o governo brasileiro por meio de um golpe. As Forças Armadas depuseram o presidente eleito João Goulart – o popular Jango – e assumiram o poder. Institui-se então a Ditadura Militar, regime de exceção que vigoraria no país até 1985 e deixaria suas marcas indeléveis. Após o Golpe, que os militares cinicamente denominaram de “Revolução”, o ambiente político nacional é marcado por intensa perseguição às personalidades que se opunham ideologicamente ao regime. Os efeitos daninhos da nova ordem chegariam dias depois a todos os cantos do Brasil, inclusive à Bahia, e a Vitória da Conquista.
O momento histórico é muito confuso, singular e difícil, e também crucial para notar o jogo do poder nos âmbitos federal e local. Num primeiro momento, o alto comando das forças militares têm objetivamente o papel de desestimular quaisquer pessoas com vínculo ideológico ou partidário a Jango. A conjuntura mundial é bilateral; duas superpotências – Comunismo (União Soviética) e Capitalismo (Estados Unidos) – dominam o mundo. A instabilidade do momento político e histórico preocupa a classe dominante e a burguesia, que temem pela comunização do Brasil, principalmente por causa da postura populista adotada por Jango, que se apresenta com propostas reformistas para o país.
REFLEXOS LOCAIS: O historiador José Alves Dias, que estudou as manifestações de rebeldia contra o regime militar na Bahia, conta que Vitória da Conquista mantinha então posições estratégico-políticas no executivo e no legislativo vinculadas às propostas do governo João Goulart, conhecido popularmente como Jango. Daí porque o alto comando militar envia para Vitória da Conquista um contingente comandado pelo capitão Antônio Bendochi Alves Filho. A tropa se instala nas dependências do 9º Batalhão da Polícia Militar e imediatamente passa a efetuar prisões de diversas pessoas, inclusive do prefeito municipal e de alguns vereadores.
No contexto da luta política pelo poder local, alguns vereadores se apressaram em apresentar Moção de Aplausos às Forças Armadas e ao comandante militar designado para efetuar prisões e presidir os Inquéritos Policiais Militares – os temidos IPM’s. Vereadores como Péricles Gusmão Régis – que morreu nas dependências do 9º BPM – extremamente combativos, diante da pressão e do terror que se apresentavam, não puderam esboçar qualquer reação naquele momento.
A Polícia Militar toma conta das ruas de Vitória da Conquista, onde passa a vigorar um clima de guerra e terror. As alamedas da cidade são ocupadas por tropas fortemente armadas. Isso porque Vitória da Conquista tem um prefeito ligado à sigla PSD, com características similares às de João Goulart, como políticas de reformas de base, e vereadores que acompanham a posição do prefeito, José Pedral Sampaio.
Durante as sessões da Câmara Municipal, quando eram votadas matérias importantes para aquela conjuntura política, como a Moção e o impedimento do prefeito, o prédio era ocupado por contingentes militares intensamente armados, e, contrariando o Regimento Interno do Legislativo Municipal, a votação era nominal. Sendo assim, o autoritarismo militar e o jogo político do poder local amordaçaram os vereadores, que não podiam ter naquele momento uma postura liberal e democrática ou mesmo comprometida com suas ideologias. “Era uma questão de sobrevivência”, como fez questão de salientar o professor José Dias.
No dia 6 de maio de 1964, em sessão presidida por Orlando Leite, a Câmara Municipal vota e aprova o Projeto de Resolução 62/64. A matéria impedia o então prefeito municipal, José Fernandes Pedral Sampaio, de continuar desempenhando suas funções. O presidente da Câmara de Vereadores assume então a condição de chefe do executivo municipal e o já então ex-prefeito passa a responder o inquérito que culminaria na cassação de seus direitos políticos por dez anos.
*Artigo publicado originalmente em 2001
Fonte: http://blogdofabiosena.com.br/v1/historia-sob-a-mira-dos-fuzis-camara-apoia-regime-militar-2/