Democratizar a mídia.
“Democratização da mídia é prioritária para a defesa da soberania”, diz embaixador
- Estados do Brasil:
Samuel Pinheiro Guimarães alerta para riscos
decorrentes do atual 'controle dos meios de comunicação pelas classes
hegemônicas mundiais'
18/07/2013
Leonardo Wexell Severo,
de São Paulo (SP)
“O
controle dos meios de comunicação é essencial para o domínio da classe
hegemônica mundial. Como esses meios são formuladores ideológicos,
servem para a elaboração de conceitos, para levar sua posição e visão de
mundo. Daí a razão da democratização da mídia ser uma questão
prioritária”, afirmou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães no debate
“O Brasil frente aos grandes desafios mundiais”, realizado na
terça-feira (16) na Universidade Federal do ABC.
Samuel Pinheiro Guimarães - Foto: Roberto Parizotti |
Ex-ministro
da Secretaria de Assuntos Estratégicos (2009-2010) e ex-secretário
geral do Itamaraty (2003-2009) no governo do presidente Lula, o
embaixador defendeu a campanha do Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC) por um novo marco regulatório para o setor. Segundo
ele, uma relevante contribuição à democracia e à própria soberania
nacional, diante da intensa disputa política e ideológica numa “economia
profundamente penetrada pelo capital internacional”.
Entre
as iniciativas para garantir o surgimento e estabelecimento de novas
mídias, apontou, está a “distribuição das verbas publicitárias do
governo”, desconcentrando os recursos públicos e repartindo de forma
justa e plural. “O critério de audiência, que vem sendo utilizado,
privilegia o monopólio e o oligopólio”, sublinhou.
O
embaixador também condenou o fato de que um mesmo grupo possa deter
emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas – a chamada
propriedade cruzada. Conforme Samuel, esta concentração acaba concedendo
um poder completamente desmedido para alguns poucos divulgarem as suas
opiniões como verdade absoluta. “Quando Estados como a Argentina, o
Equador e a Venezuela aprovam leis para democratizar a comunicação, a
mídia responde com uma campanha extraordinária, como se isso fosse
censura à imprensa”, lembrou.
Manipulação
Em
função dos interesses da classe dominante, alertou o embaixador, a
mídia hegemônica pode, sem qualquer conexão com a realidade, “demonstrar
que um regime político da maioria é uma ditadura e realizar campanhas
sistemáticas que permitam uma intervenção externa, com o argumento que
determinado governo oprime os direitos humanos”. “Podem inclusive se
aproveitar de manifestações pacíficas para infiltrar agentes
provocadores que estimulem o confronto”, alertou.
Uma
vez criado o caldo de cultura, soma-se à campanha de difamação e
manipulação das consciências a intervenção militar, como aconteceu
contra o governo de Muamar Kadafi. “Na Líbia houve a derrubada de um
governo que lhes era contrário, não foi ação defensiva dos direitos
humanos em hipótese nenhuma”, frisou. Na avaliação de Samuel, “os
Estados Unidos têm um projeto muito claro de manter o seu controle
militar e informativo”, que utilizam de forma alternada e complementar.
“Contra os governos que contrariam frontalmente os seus interesses, os
EUA têm um uma política declarada de ‘mudança de regime’. Para isso, sem
grandes embaraços, qualquer movimento pode ser instrumentalizado”,
assinalou.
Entre os muitos exemplos de
manipulação citados pelo embaixador está o “esforço da política
neoliberal para reduzir direitos”, utilizando-se da campanha pelo
“aumento da competitividade”. ”O receituário que defendem é o de reduzir
programas sociais, controle orçamentário e reduzir os benefícios da
legislação trabalhista. Para isso disseminam ideias como a de que as
empresas nacionais não são produtivas”, destacou Samuel.
Também
condenando a manipulação da informação e o papel desempenhado por
setores da mídia, o professor Paulo Fagundes Vizentini, coordenador do
Núcleo de Estratégia e Relações Internacionais da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, considerou inadmissível que “os mesmos que
bombardeiam e ocupam militarmente países soberanos venham agora dar
lições de direitos humanos”.
“Antes era feio não
ter opinião, hoje é ideológico, que mais se parece com fisiológico”,
disse Vizentini, defendendo a afirmação do interesse público e da
soberania nacional, e combatendo “os que querem que o país fique na
segunda divisão, desde que sejam o capitão do time”.
O
professor sublinhou o papel estratégico e singular proporcionado pela
descoberta do pré-sal, tanto do ponto de vista energético, como
geopolítico, e alertou para a necessidade de que o Brasil tenha os
elementos de dissuasão para impedir que esse imenso patrimônio venha a
ser apropriado militarmente pelos estrangeiros. “Para isso temos de
enfrentar os espíritos fracos e colonizados. O colonialismo é o mais
difícil de combater, porque está dentro da nossa cabeça”, frisou.
Para
o secretário de Relações Internacionais do Movimento dos Trabalhadores
Sem Terra, Pedro Bocca, “o fortalecimento dos espaços de mídia dos
movimentos sociais, como a TeleSur, a Alba TV e a TVT, com sua
divulgação em canal aberto, são uma necessidade do momento para o avanço
da própria integração”. “Nesse momento, o investimento do governo é
essencial para combater a desinformação e garantir a efetiva
democratização da comunicação e do país”, concluiu.
Comentários
Postar um comentário