Absurdo.
McDonald’s lança cartilha que ensina empregados a gerir baixos salários
Objetivo da empresa é mostrar “melhor maneira de
gastar dinheiro”; guia propõe gastos ínfimos com saúde e segundo emprego
aos funcionários da franquia
22/07/2013
O
McDonald’s criou, em conjunto com a Visa, uma página na internet –
Practical Money Skills – para orientar seus funcionários a serem
“bem-sucedidos financeiramente” com os ganhos recebidos na empresa, um
ambiente de trabalho “gratificante e compensador”. A campanha, realizada
pelas sedes das duas companhias nos Estados Unidos, procura guiar os
empregados da rede de fast foods a gerirem sua remuneração salarial.
O
salário de um empregado do restaurante é, em média, de US$ 8,25 por
hora nos EUA. No site, há uma cartilha que ensina, passo a passo, a
“melhor maneira de gastar seu dinheiro”. Entre as recomendações o guia
propõe um orçamento mensal de US$ 20 para despesas com saúde. No país,
porém, não há sistema público de saúde, e toda e qualquer necessidade
médica deve passar por hospitais ou clínicas particulares.
A
cartilha também prevê que um funcionário do McDonald’s inclua no
orçamento os ganhos com um segundo emprego. Além disso, há uma versão da
página em espanhol. O documento, ainda, não leva em consideração
diferenças do custo de vida nas diferentes regiões do país, bem como não
faz qualquer menção a gastos para indivíduos que tenham de sustentar
uma família.
Procurada pela reportagem para
comentar o caso, a assessoria de imprensa da empresa alocada no Brasil
disse que não iria se pronunciar por se tratar de uma questão
relacionada à franquia estadunidense.
Segundo
números da própria companhia, a rede emprega mais de 1,7 milhão de
pessoas e tem 33 mil restaurantes em todo o mundo, em mais de 119
países. De acordo com levantamento das melhores corporações para se
trabalhar no mundo, realizado pela companhia “Great Place to Work”, a
rede de restaurantes foi eleita a 4ª melhor transnacional alocada na
América Latina, no período entre junho de 2011 e março de 2012.
Ainda
este ano, no entanto, o McDonald’s foi alvo de um protesto
internacional, ocorrido no último 6 de junho em pelo menos 33
localidades, para denunciar violações a direitos trabalhistas,
principalmente contra trabalhadores imigrantes, e práticas contra a
livre associação sindical.
Condenação trabalhista no Brasil
Em
março deste ano o McDonald’s foi condenado pela Justiça do trabalho
brasileira por estabelecer um regime de expediente variável e impedir
que funcionários trouxessem a própria refeição de casa, duas práticas
que costumavam ser adotadas pela empresa. A juíza Virgínia Lúcia de Sá
Bahia, da 11ª Vara do Trabalho do Recife, determinou que em todo o
Brasil a franquia cessasse essas condutas.
A
condenação à época decorreu de uma ação movida pelo procurador do
Trabalho Leonardo Osório Mendonça. Para o MPT, na ocasião, a jornada
móvel variável fazia que “o empregado estivesse, efetivamente, muito
mais tempo à disposição da empresa do que as oito horas de trabalho
diárias previstas nos contratos ‘normais’ de trabalho”, além de “não
garantir o pagamento sequer de salário mínimo ao final do mês”.
Trabalho escravo
Além
de irregularidades trabalhistas, o McDonald’s já foi denunciado pelo
Sindicato dos Trabalhadores em Gastronomia e Hospedagem de São Paulo e
Região (Sinthoresp) por suposta exploração de trabalho escravo. A
denúncia culminou na abertura pela Polícia Federal (PF) do inquérito
policial 0233/2012 em 16 de outubro de 2012. O assunto foi encaminhado
para a Justiça e, em maio de 2013, retornou para mais investigações.
Ainda não há, porém, comprovação da prática por autoridades.
Desde
2009, o McDonald´s integra o Pacto Nacional pela Erradicação do
Trabalho Escravo e pode ser suspenso se for comprovada a submissão de
trabalhadores à escravidão. Na época, ao Comitê de Gestão do Pacto, a
empresa afirmou que as alegações do Sinthoresp não têm qualquer suporte
“fatídico ou legal”. (com informações das agências de notícias)
Foto: Reprodução