Catolicismo popular na escrita do Folclore Brasileiro
Catolicismo popular na escrita do Folclore
Brasileiro
Mônica Martins da SILVA*
RESUMO
O Folclore,
expressão polissêmica e controversa, pode ser entendido como um movimento
intelectual que se consolidou no Brasil entre os anos de 1940-1970 e que elegeu
diversos temas da cultura brasileira como tradicionais e relevantes para se
definir o que seria o folclore nacional. Destaca-se o catolicismo popular como
tema recorrente nas escolhas dos folcloristas como: festas, procissões,
romarias, penitências, entre outros e analisa-se que se construíram narrativas
particulares para se abordar os temas associando-os a uma pretensa identidade
nacional e a valores considerados relevantes em um país eminentemente católico
bem como construíram-se interpretações, julgamentos e recortes que
selecionaram, incluíram e excluíram diversas práticas populares. Considera-se
nesta análise a escrita de autores como Renato de Almeida, Edson Carneiro,
Rossini Tavares Lima e Câmara Cascudo.
O interesse pelo estudo do
catolicismo popular e seus sub-temas como as festas, rituais, danças e
folguedos têm crescido vertiginosamente nas últimas décadas embalado em grande
medida pelos estudos culturais. Nesse processo, tem ganhado preponderância o
interesse pela pluralidade dessas práticas através da compreensão das
especificidades locais, regionais e temporais bem como pelas representações
diversas de grupos envolvidos. A escolha de fontes para este tipo de trabalho,
porém, permanece como um desafio pelo fato que boa parte dessas experiências
não está documentada e se colocam dentro de uma memória coletiva muitas vezes
engessada e diretamente ligada a interesses e expectativas dos grupos dos quais
elas fazem parte. Essa questão pode
constituir um problema bastante original para uma pesquisa, mas possibilita
apenas uma aproximação parcial do objeto, se o interesse do estudo é pensar na
dimensão multifacetada desses rituais com cores, sons e estilos. Uma saída nem
sempre confortável foi a pesquisa aos manuais de folclore cujo caráter conservador,
compilador, homogeneizador e classificatório constituiu uma barreira na
aceitação dessas obras como fonte de pesquisa na medida em que as
interpretações desses trabalhos desconstruíam os pilares básicos das ciências
sociais contemporâneas.
O início desta crise pode ser
localizada nos anos de 1950, quando as ciências sociais se constituíam como um
campo autônomo na academia brasileira. Naquela época, os estudos do folclore
alcançavam um momento bastante profícuo, pois, no final da segunda guerra mundial,
com a criação da ONU e de um vasto discurso em prol da paz mundial, o folclore
se tornou o elemento mediador para a criação de uma cultura de paz, ancorada na
identificação de diversos elementos culturais comuns e da celebração do
encontro de povos através de práticas culturais diversas. É sob referências
absolutamente conservadoras que o movimento do folclore brasileiro se
constituiu como campo de estudos institucionalizado e custeado por verbas
públicas dos estados e da união. Florestan Fernandes, uma das
referências mais significativas na defesa de uma discussão metodológica
consistente no campo nas ciências sociais, tornou-se participante ativo deste
debate entre folcloristas e cientistas sociais, ao incluir as temáticas do
folclore em seus estudos. Ele problematizou a atuação e o método folcloristas,
por tratarem a cultura com apego ao passado, desconsiderando os seus aspectos
múltiplos e dinâmicos, além de se basearem em métodos estrangeiros,
distanciando-se da realidade nacional. (FERNANDES,
1989). Embora folcloristas e cientistas sociais compartilhassem de um
momento profícuo para o debate em torno das manifestações populares, os seus
caminhos eram bastante diversos. De um lado, a antropologia enquadrava o
folclore como uma divisão da antropologia cultural; de outro, os folcloristas,
representados na época por Alceu Maynard, Rossini Tavares Lima, Renato Almeida,
entre outros, defendiam a autonomia do folclore, como acontecia na Europa, a
preservação das manifestações populares e a aprovação de uma carta do folclore
brasileiro que considerasse folclórica toda manifestação espiritual ou material
que estivesse de acordo com os preceitos deste documento.
Recentemente, alguns
sociólogos brasileiros como Mariza Peirano, José Jorge de Carvalho, Maria Laura
Viveiros de Castro Cavalcanti, Luis Rodolfo Vilhena entre outros retomaram esse
embate antigo e revelaram que a presença do movimento do folclore nas ciências
sociais deve ser considerada como parte de um processo relevante do pensamento
intelectual brasileiro. De fato, parece que a negação dos estudos do folclore,
em função das problemáticas desse tipo de análise, fez com que jogassem fora o
bebê junto com a água do banho. Ou seja, negaram a tal ponto os estudos do
folclore que deixaram de reconhecer a sua especificidade, seu valor para as
análises das culturas populares e a própria possibilidade de problematizar os
estudos sobre o popular considerando as especificidades próprias de cada
tempo.
A noção de folclore surgiu em
meados do século XIX, durante processos de organização e formação de nações
européias, e pode ser considerada como parte de um contexto de problematização
da noção iluminista de cultura, considerada como sinônimo de civilização. O
Iluminismo irá promover valores de universalidade e racionalidade que terão
papéis fundamentais na elaboração deste modelo ideológico no qual as práticas
populares eram consideradas como irracionais. (ORTIZ,1985, p.11)
Ortiz considera que o
romantismo teve um impacto importante na definição do conceito de cultura
popular, pois, ao se opor ao Iluminismo voltou-se para situações particulares,
dando ênfase às diferenças e espontaneidade dos sentimentos, aproximando-se
também do historicismo e descobrindo, assim, a Idade Média, os romances de
cavalaria, os reis, as cruzadas. (ORTIZ,1985, p. 09) No entanto, os românticos
gostavam daquilo que surpreendia, o bizarro, o excêntrico, o exótico e o
pitoresco. E era assim que as manifestações populares eram vistas. A grande
diferença na abordagem do estudo das manifestações populares seria a descoberta
da cultura popular pelos intelectuais e é na Alemanha onde se torna mais
consistente. Peter Burke considera que o conceito de cultura popular é nesse
período inventado por um grupo de intelectuais alemães, o filósofo Herder e os
irmãos Grimm. (BURKE, 1989, p.8). De fato, esses pensadores são parte de um
contexto no qual surge o debate sobre a cultura popular que se travava na
Alemanha, no qual, parte da intelectualidade voltava a atenção para as
tradições populares e, por meio delas procurava legitimar uma cultura
autenticamente nacional. (ORTIZ, 1985, p.11)
Somente na segunda metade do
século XIX é que os estudiosos da cultura popular vão se considerar
folcloristas, na conclusão de Ortiz, sendo que o próprio termo de origem inglesa
representava um novo espírito que procurava definir o estudo das tradições
populares como uma ciência. Várias iniciativas objetivaram demarcar as novas
fronteiras do folclore e algumas delas podemos citar a partir de Ortiz como Folklore Society na Inglaterra em 1878,
o 1º congresso Internacional do Folclore em Paris em 1889, algumas publicações
como Folk-lore Record e Folk-lore Journal.
No Brasil, o movimento folclórico só será articulado a partir das primeiras décadas do século XX, quando as festas e todo um conjunto de manifestações populares estarão envolvidos em debates que buscavam discutir elementos para a nacionalidade brasileira. A ideologia da mestiçagem e a união das três raças passaram a ser as marcas de nossa identidade nacional, tal como pregavam as idéias cientificistas, naturalistas, positivistas e evolucionistas na época. Como exemplos, podemos citar os estudos literários de Celso de Magalhães, Sílvio Romero e os trabalhos etnológicos de Nina Rodrigues e, um pouco depois, os de Amadeu Amaral. (ABREU, 1998 p. 173). No entanto, nenhum deles pode ser caracterizado como folclórico, visto que o seu estabelecimento no Brasil era muito recente e se confundia freqüentemente com a própria literatura, tal como também acontecia na Europa. (BOSI,1992). Bosi acredita que no Brasil, o tema do cruzamento entre as culturas é proposto especificamente por alguns escritores modernistas, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Raul Bopp e Cassiano Ricardo, os quais acreditavam na fusão de culturas a partir da diversidade nacional.
O Movimento Modernista que buscou nas tradições,
costumes e crenças populares o elemento mediador para se entender o Brasil,
será o ponto inicial para a criação de órgãos e grupos que vão se ocupar da
pesquisa e do levantamento das manifestações populares. Esse movimento, cujo
mentor e articulador-mor será Mário de Andrade, terá desdobramentos diversos e
constituição de rumos mais definidos, a partir de seu envolvimento com essas
questões. Mário de Andrade, numa atitude pioneira, irá tentar criar sociedades
de folclore e se dedicará à pesquisa de vários aspectos do tema, principalmente
no que dizia respeito às danças dramáticas, seu campo preferido de abordagem,
envolvendo o mundo negro e mestiço. Parte dessas interpretações foi fruto de
várias viagens realizadas pelo intelectual nos anos de 1920 pelo interior do
Nordeste que resultou na coleta de imagens e sons que foram matéria para várias
obras como Turista aprendiz, Danças Dramáticas no Brasil e os Cocos.
É importante ressaltar que o
momento era bastante frutífero para as discussões em torno da nacionalidade,
como expressões legítimas a partir da publicação de títulos como Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de
Holanda, Evolução política do Brasil,
de Caio Prado Júnior, e também Casa
Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, além do surgimento de vários museus e
institutos que tentavam envolver o Brasil e o seu mosaico cultural entendido
como parte da nacionalidade.
Se, os anos de 1920 são pontos de partida para os
estudos folclóricos, seu auge só será na década de 1950 com a criação da
Comissão Nacional do Folclore e da Carta do folclore brasileiro, que o definiu
a partir de cinco itens: anonimato, oralidade, aceitação coletiva,
tradicionalidade e funcionalidade. Esses itens podem ser considerados como
parte dessa política dos folcloristas em dar uma definição específica do que
seria o folclore, independente das ciências sociais, de modo que pudessem se
apropriar desse objeto com autonomia e propriedade, de acordo com as suas expectativas.
Associando pesquisa e ação política, os folcloristas
aproximaram-se gradativamente do Estado, até a criação da CDFB[1],
em 1947, instituição ligada diretamente ao MEC e atendendo aos apelos da carta
do Folclore Brasileiro e aos interesses da Unesco.(CAVALCANTI ; VILHENA, 1990,
p. 73) Assim, os folcloristas se distanciaram do ambiente acadêmico,
envolvendo-se gradativamente com a política nacional e regional. O movimento só
é solidificado em 1958, efetivamente, com a CDFB[2],
que representou, segundo Vilhena, não só a expressividade de um contingente de
intelectuais na valorização da cultura popular, mas, principalmente, o lastro
para a definição de nossa identidade nacional a qual teria o folclore como
referência importante. Considerava-se como folclore parte da música popular, os
contos, as histórias, as lendas, as superstições, a medicina, a culinária, os
ditos, as danças dramáticas e as festas. (VILHENA, 1997, p. 21).
A escrita do folclore, atualmente, pode ser considerada
a partir de algumas premissas dos estudos culturais e constituir-se como uma
possibilidade de leitura das práticas populares mediadas pela noção de
representação dos grupos que escreviam essas histórias, considerando suas
interpretações não como posturas absolutas, mas como relativas e interligadas a
subjetividades de grupos com interesses, tarefas e projetos. Inicialmente, é relevante considerar que os
estudos do folclore não se caracterizam por uma unidade, pois havia um número
grande de intelectuais que se ocupavam dessa escrita, que variou inclusive de
acordo com o grupo ou região onde este intelectual estivesse inserido.
Durante o século XIX, vários intelectuais escreviam
sobre o folclore, mas, ele não aparecia como temática autônoma, o que só
ocorrerá a partir de 1938 com a criação da Sociedade de Etnografia e Folclore,
por Mário de Andrade, com objetivo de contemplar críticas já realizadas por
Amadeu Amaral, que, desde os anos de 1920, já criticava a ausência de uma
organização desses estudos e, também para representar o Brasil no Congresso
Internacional de Folclore realizado em Paris naquele ano. A partir da
institucionalização do movimento do folclore nos anos de 1940 e 1950, a escrita do folclore
se tornou mais complexa, dado o interesse recorrente de seus articuladores com
a legitimação dessa área com respaldo científico. Nesse momento, torna-se
evidente o esforço em se construir uma grande corrente nacional de folcloristas
com capacidade de superar o caráter local dessas produções, através de uma rede
localizada no Rio de Janeiro que terá Renato Almeida como principal
articulador. A escrita de Renato Almeida pode ser analisada a partir do livro a
Inteligência do Folclore brasileiro no qual apresenta uma proposta de
investigação científica e microscópica para o folclore nacional cuja pesquisa
deveria se subordinar aos padrões dos valores culturais, pois, “é tempo de
acabar com um mundo de fórmulas empíricas prejudiciais ao exato conhecimento
folclórico, já condenados pela observação científica” Para ele, o folclorista
deveria ter vocação, intuição, características de um psicólogo, disposição para
a vivência no convívio com o povo para adquirir noção segura das reações
folclóricas através de uma observação participante e precisaria ter amor para
compreender a alma secreta daquele povo (ALMEIDA, 1957, p. 38).
Rossini Tavares
Lima, representante do movimento folclorista de São Paulo reiterava essa idéia
afirmando que deveria haver uma comunicação entre o espírito do povo e do
observador, tornando-se um deles cantando, dançando rezando, trabalhando ou
representando. Seria necessário que o pesquisado fosse discreto, tivesse
retração e timidez, neutralidade, naturalidade e fidelidade ao que visse ou
ouvisse, demonstrando respeito e interesse humano contendo manifestações de
zombaria. (LIMA, 1983, p. 75)
Essa, em grande
medida, é a tônica do trabalho de campo dos folcloristas entendido como o
grande momento de resgate de um passado, prestes a desaparecer. O pesquisador
deveria ser neutro para não interferir na realidade vista como ideal, pura,
natural. Inventa-se aí a idéia da existência de uma idade do ouro, de um tempo
perdido, pois quanto mais distante fosse a manifestação, mais original e
autêntica. O popular assumia uma perspectiva autônoma revelando que a
bipolaridade do popular e do erudito, noção altamente rebatida pelos estudos
culturais contemporâneos, embasava muitas dessas interpretações
elaboradas.
Talvez, esses tenham sido os principais elementos de
recusa do trabalho de pesquisa dos folcloristas, na medida em que na sua grande
maioria constituíam-se sem uma contextualização e periodização. Os estudos do
folclore revelaram, também, esforços de se criar referências para uma
identidade nacional, nesse sentido, os folcloristas estiveram constantemente
embalados por noções como o mito das três raças como pilares da formação
nacional uma vez que constantemente fundamentaram suas análises nessa busca
comum de identificar a contribuição do branco, do negro e do índio nas festas,
nos mitos, nas lendas, nas estórias. Essa noção, por vezes condenada é ainda
repetida quando se busca incessantemente identificar qual o percentual de
contribuição dos três povos em “nossas tradições populares”, como se fossem de
fato de todos indiscriminadamente. As Cavalhadas, por exemplo, são vistas como
uma contribuição ibérica e européia, as congadas, uma contribuição africana, a
dança dos tapuias, uma contribuição indígena, valorizando-se aí uma suposta
origem no processo de colonização desconsiderando os valores internos de uma
comunidade mestiça que re-inventou muitas dessas práticas, atribuindo, muitas
vezes, outros elementos e sentidos. A
localização geográfica dessas práticas também foi uma tônica recorrente do
discurso dos folcloristas. Nesse sentido, havia um esforço coletivo em
identificar quais seriam os costumes de cada região ou estado.
Câmara Cascudo, importante expoente da escrita
folclorística revelou algumas divergências em torno deste movimento, pois,
enquanto os estudos dos cariocas Renato Almeida e Édison Carneiro enfatizavam a
identificação de um folclore nacional, Cascudo reforçava a identificação do
folclore regional. Essa perspectiva talvez se justifique pelas próprias
fissuras internas do movimento folclorista, pois, Câmara Cascudo morava em
Natal e possuía várias divergências com membros do movimento folclórico
centrado na capital federal e por isso criara um movimento independente no
Nordeste chamado de Clube Internacional do folclore para o qual recebia
subvenção estadual e impedia que o movimento do folclore nacional tivesse uma
subcomissão regional na capital do Rio Grande do Norte.
A obra de Câmara Cascudo, indiscutivelmente a mais
vasta e numerosa da produção escrita do folclore, visto que o escritor viveu
até 1986, tem sido objeto de importantes releituras de vários pesquisadores na
atualidade[3]
pois, reconhece-se nessas narrativas, esforços de se pensar e escrever sobre o
cultural e o regional numa época de inúmeras dificuldades de comunicação e
transportes. A escrita do folclore, resguardados todos os problemas que constituíram
esse tipo de análise, pode ser relida atualmente como formas de representação
de determinadas realidades. Assim, o que se entende hoje por folclore não pode
estar deslocado da interpretação e dos sentidos do movimento que os criou
considerando suas divergências, suas características e suas iniciativas que
revelam projetos políticos de um tempo em que se buscava desenhar uma face para
a nação brasileira. A escrita do
folclore também é uma iniciativa relevante, pois, a percepção do popular
através de práticas materiais e imateriais era quase ausente na escrita das
ciências sociais brasileiras até aos anos de 1960. Sendo assim, é importante
reconhecer que as primeiras interpretações de muitas práticas populares foram
inicialmente construídas por folcloristas e memorialistas. Esses autores
produziram uma série de livros, revistas, jornais e projetos de trabalhos que
revelaram a existência de universo popular diverso constantemente classificado
e hierarquizado, mas vivo e plural.
Percebe-se, nesse contexto,
que a história nacional fora narrada e representada por referências bem
particulares deste período em que se procurava pensar o Brasil como uma nação
multifacetada e cujos elementos identificadores estavam dispersos em vários
focos no centro e interior do Brasil. A escrita do folclore é representativa
deste contexto, pois, estabelece limites, cria personagens, organiza histórias,
estabelece identidades e confere legitimidade para costumes antigos e
interioranos, compondo um mosaico cultural nacional. Sabe-se, porém, que esses
tipos de narrativas frequentemente idealizavam o litoral como centro irradiador
e o sertão como maculado, original, autêntico desconhecendo as fronteiras
tênues entre o popular e o erudito, o moderno e o tradicional e considerando a
modernidade daqueles tempos como uma ameaça aos velhos costumes tradicionais
aonde residiria nossa autêntica identidade.
No contexto atual em que os
estudos culturais ganharam predominância, a releitura da obra dos folcloristas
revela um exercício frutífero de repensar as interpretações atribuídas a nosso
passado, pois possibilita rever inúmeros preconceitos direcionados a esses
autores considerados ora como conservadores retrógrados ora como ufanistas de
um tempo perdido. Atualmente, podemos seguir as pistas das noções de
representações e apreender nessas narrativas folclorísticas, os modos como a
nação e as regiões foram pensadas, narradas, elaboradas, imaginadas, sonhadas,
vivenciadas e entendê-las dentro de um complexo processo de imaginação coletiva
em que o povo e seus costumes representavam não o começo de uma história, mas o
fim de utopias, sonhos e crenças, num tempo de transformações.
ABSTRACT
SILVA, Mônica Martins da. Popular Catholicism in the
writing of Brazilian Folklore. Temporis[ação], Goiás, v. 1, nº 9,
Jan/Dez 2007.
Folklore, a
polissemic and controversial expression, can be understood as an intellectual
movement that became consistent in Brazil from the 1940’s to the
1970’s and that has elected several themes of the Brazilian culture,
considering them as traditional and relevant to define Brazilian folklore.
Popular Catholicism has a major role as a recurrent theme chosen by folklore
scholars: feasts, processions, pilgrimages, penance, among other things, and
one can have for analysis that some particular narratives were built for
approaching the themes associating them with an intended national identity and
with some values considered relevant in such country which is deeply founded on
the Catholic faith; and some interpretations, judgements and particular cutting
outs were built too, which selected, included and excluded diverse popular
practices. The written production of the authors Renato de Almeida, Edson
Carneiro, Rossini Tavares Lima and Câmara Cascudo is taken into consideration
by this analysis.
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* Mestre em
História pela UFG, doutoranda em História pela UnB.
[1] Comissão
de Defesa do Folclore Nacional.
[2] Campanha
de Defesa do folclore brasileiro
[3]
Consultar o site www.modernosdescobrimentos.inf.br
que apresenta uma importante leitura da obra de vários escritores do século XX
chamados de modernos descobridores e entre eles, Câmara Cascudo.
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