Democratizar a mídia: A Maior de todas as batalhas.
Pela democratização da mídia: A mãe de todas as batalhas
Quantos milhões de brasileiros foram humilhados pela
miséria, pela fome, pela falta de escolas, hospitais e emprego, para que
a família Marinho se tornasse uma das mais ricas do mundo!
08/07/2013
Miguel do Rosário
Foi
uma manifestação pacífica, mas com muito sangue nas veias! Não
quebramos nada, mas xingamos. Ah, como xingamos! Imagine mil pessoas na
porta da Globo mandando o Merval e Jabor pra aquele lugar. Imagine mil
pessoas ouvindo discursos sobre o mensalão que a Globo levou dos Estados
Unidos para apoiar o golpe de 64. Imagina mil pessoas exigindo que o
Ministério Público investigue a sonegação bilionária da Vênus Platinada.
O
microfone era aberto. Qualquer um que se inscrevia, podia falar,
caracterizando o caráter genuinamente democrático da manifestação.
Diferente de algumas recentes onde só diretores de Ongs tem voz… As
pessoas que trabalham, aqui no Rio, com o tema da democratização da
mídia estavam em estado de êxtase, porque conseguimos juntar um público
mais diversificado e mais jovem.
Importante: foi
uma manifestação com foco. Uma coisa é reunir 20 mil pessoas numa
manifestação esquizofrênica, com um grupo pedindo a volta da ditadura,
outro pedindo o anarquismo, outro espancando militantes partidários,
outro pedindo socialismo, outro pedindo “bolsa Louis Vitton”. Não.
Éramos mil pessoas com um foco: protestar contra a Globo, contra o
monopólio da mídia.
Um estudante de economia da
UFRJ, muito jovem, disse uma coisa bonita: “não estamos aqui para
protestar contra a política, mas contra o poderio econômico que
sequestra a política. Não estamos aqui para protestar contra a
corrupção, mas contra os corruptores”.
O refrão mais cantado foi o mesmo que esteve presente nas grandes manifestações, mas que a grande mídia, naturalmente, escondeu:
“A verdade é dura! A Globo apoiou a ditadura!”
Fizemos
uma verdadeira assembleia popular. Claudia de Abreu, coordenadora da
Frente Ampla pela Liberdade de Expressão (Fale-Rio), um dos movimentos
sociais que lideram os debates sobre democratização da mídia no estado
do Rio, fez belíssimos discursos, sempre pontuando que não estávamos ali
para uma catarse emocional, mas preparando ações concretas para acabar
com o monopólio da grande mídia.
Eu mesmo fiz
alguns discursos, explicando a denúncia contra a Globo feita no
Cafezinho, sempre enfatizando que a ficha criminal da Globo vai muito
além dessas estripulias em paraísos fiscais. A Globo cometeu crimes
históricos contra o Brasil. Lutou contra a criação da Petrobras. Fez
parte do golpe que levou ao suicídio de Vargas. Consolidou-se
financeiramente, com dinheiro
estrangeiro de um lado, e de golpistas internos, de outro, sobre o
cadáver da nossa democracia. Essas coisas tem de ser ensinadas no
colégio, para que nossas crianças, adolescentes e jovens parem de sofrer
lavagem cerebral dos platinados.
Quantos milhões
de brasileiros não deixaram de se alimentar porque a Globo patrocinou e
sustentou um golpe de Estado que interrompeu o processo de modernização
democrática que apenas se iniciava com João Goulart?
Quantos milhões de brasileiros foram humilhados pela miséria, pela fome, pela falta de escolas, hospitais e emprego, para que a família Marinho se tornasse uma das mais ricas do mundo!
O
ministro Paulo Bernando também foi alvo dos manifestantes. Todos muito
indignados com a gestão reacionária, entreguista e covarde do Ministério
das Comunicações. Sua recente entrevista à Veja, tentando dar uma
facada nas costas dos movimentos que defendem a democratização da mídia,
foi a gota d’água. A incompetência da ministra Helena Chagas que não
propõe à presidenta a abertura de uma mísera conta de twitter, deixando a
direita midiática pautar a agenda política nacional, também foi muito
questionada pelos manifestantes.
Ficamos
orgulhosos também com a participação dos jovens ativistas da mídia
ninja, um dos movimentos mais atuantes nas grandes manifestações
populares que tomaram conta do país nas últimas semanas. A manifestação
foi toda exibida ao vivo. Tivemos mais de 10 mil pessoas assistindo via
Mídia Ninja, mais uns dez mil pela Pos-TV. Ou seja, vinte mil pessoas
acompanharam ao vivo a nossa manifestação!
O
momento alto do evento foi quando centenas de pessoas levaram uma fita
listrada e “lacraram” a Rede Globo, numa alusão ao que a Polícia Federal
costuma fazer com as pequenas rádios comunitárias acusadas de alguma
mísera irregularidade burocrática. A Globo pode dever bilhões, pode
fraudar, e ninguém faz nada. A gente fez, simbolicamente. Lacramos a TV
Globo.
A quantidade de policiais era
impressionante. Havia mais PM na porta da Rede Globo do que protegendo a
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro naquela manifestação que
terminou em depredação da Alerj. Mais do que em frente à sede do
governo. A gente conversou com o major, explicamos o programa da nossa
manifestação e nos comprometemos a não deixar nenhum “infiltrado”
cometer atos de violência. Mas fizemos questão de pontuar, ao microfone,
que o pior vandalismo no Brasil vem das Organizações Globo. Um
vandalismo informativo, moral e político. Alguns garotos irresponsáveis
quebraram alguns vidros da Alerj. Depredaram uma ou duas cadeiras. A
Globo, ao apoiar o golpe de 64, ajudou a destruir os alicerces de todas
as assembleias legislativas do país, inclusive da principal, em
Brasília.
Houve muitas cantorias. Uma das mais
fortes, mais emocionantes, foi “Amanhã vem mais! Amanhã vem mais! Amanhã
vem mais!”, que deve ter feito os platinados tremerem com a
possibilidade de trazermos dezenas ou mesmo centenas de milhares de
pessoas para protestar à sua porta, e à porta de todas as suas filiadas
Brasil à fora.
Foram distribuídas quase
quinhentos exemplares da revista Retrato do Brasil, do jornalista
Raimundo Pereira, que denuncia, com fartura de documentos, a farsa do
mensalão, outro golpe patrocinado pela Globo. Vale lembrar que a Globo,
aliada a forças obscuras, tem procurado manipular o sentido dos
protestos para pressionar o Supremo Tribunal Federal a agir ao arrepio
da Constituição. A Globo, além de sonegadora, é adepta de linchamentos –
de seus adversários, é claro.
Saímos todos
extremamente satisfeitos com o resultado da manifestação. Encerramos a
noite num bar das redondezas, falando de política e mídia. O deputado
Protógenes Queiroz deu as caras e se dispôs a criar uma CPI da Globo, ao
que respondemos que daríamos nosso apoio, mas que, dessa vez, tinha que
ser pra valer. Não adianta só colher assinaturas. Tem de ser
efetivamente criada e conduzida com coragem, não por nenhum “Odarelo”.
Mais
importante que tudo, porém, é que produzimos um ato político que por si
só pode ajudar a conscientizar as pessoas de que a concentração da
mídia, do jeito que existe no Brasil, representa um perigo à nossa
estabilidade democrática. Porque a nossa mídia é golpista, reacionária e
anti-trabalhista, de um lado; e detêm um poder financeiro monstruoso,
de outro. A concentração apavorante da mídia brasileira em mãos de meia
dúzia de herdeiros da ditadura é uma anomalia que os amantes da
democracia devem combater com todas as suas forças.
A
presidenta Dilma tem de entender que, se não combater a mídia golpista,
não vai conseguir fazer o Brasil avançar. A mídia já está patrocinando
greves patronais de caminhoneiros, possivelmente está em conluio com
alguns industriais para sabotar a economia, tenta manipular o sentido
das manifestações, tudo para trazer a direita de volta ao poder em 2014.
O plebiscito proposto pela presidenta, por exemplo, pode vir a se
tornar um tiro no pé sem uma nova e mais ousada estratégia de
comunicação, e sem um contraponto decente à Globo. A Vênus Platinada,
que é a líder do principal partido conservador, quer enterrar o
plebiscito, para desmoralizar o governo. Ou então levá-lo adiante, mas
dominar o debate, fazendo aprovar seus itens mais nocivos ao povo, como o
voto distrital.
Como uma amiga, presente à
manifestação, me disse, enquanto observava orgulhosamente as pessoas
protestando na porta da Globo: essa é mãe de todas as batalhas!
*Artigo referente à manifestação realizada na porta da rede Globo, no Rio de Janeiro, na última quarta-feira (3).
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