"Só tiraremos os ladrões com uma revolução", afirma doutor pela Universidade de Harvard
Imagem: Reprodução/Sciesp |
Marcos Cintra,
doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e vice-presidente da
Fundação Getúlio Vargas, publicou um artigo comentando o problema das
condições de eliminação da corrupção no país. Leia abaixo:
Revolução é a saída
Corrupção e
enriquecimento ilícito tornaram-se fatos corriqueiros e tolerados pela
população. Crimes como o mensalão, por exemplo, que se tornou o maior
ícone da ação de quadrilheiros roubando em benefício próprio,
derrubariam governos e fariam revoluções em países ciosos de seus
direitos.
Sempre existiu
ladrão na administração pública, aqui e no resto do mundo. É da natureza
humana. Mas no Brasil é mais do que isso. Criou-se uma organização
criminosa, uma estrutura político-social organizada, incrustada no
poder, agindo de maneira sistêmica e orgânica, comprando votos e
consciências, e violentando o funcionamento das instituições.
Tudo isso
afasta da política os homens bem intencionados, criando uma reserva de
mercado e um vasto campo de atuação para os setores podres da sociedade
que fazem da política e da atividade pública uma profissão, tendo como
única meta atingir seus objetivos pessoais. A política deixa de ser uma
contribuição que os cidadãos devem sentir-se moralmente obrigados a
oferecerem aos demais concidadãos, e passa a ser um meio de vida. Homens
públicos abandonam suas atividades profissionais, e passam a depender
da política para garantirem sua sobrevivência. Pessoas nessas
circunstâncias tornam-se capazes de tudo e de qualquer coisa para
sobreviverem. Ao invés de profissionalizar a administração pública, como
fazem os países avançados, profissionaliza-se a política, que passa a
substituir o burocrata de carreira (no bom sentido) na gestão do Estado.
Quando as elites se locupletam, o povo sente-se legitimado para fazer o mesmo.
Os meios de
comunicação glorificam desvios de conduta éticos e morais. Novelas
principalmente, escoradas no princípio inquestionável da liberdade de
opinião e estimuladas pela desbragada luta por audiência, desafiam a
consciência dos cidadãos que ainda possuem algumas referências para
discernir o certo do errado. A apologia da malandragem, da ganância, da
luxúria e de outros vícios corrói instituições e valores tradicionais
como a família e a convivência pacífica e civilizada entre pessoas.
A acintosa
ostentação dos ricos é ofensiva e aguça a violência. A indústria do medo
prospera de forma assombrosa. A propriedade privada passou a ser um
direito relativo com a inatividade do governo frente às invasões de
terras e de imóveis urbanos. A depredação de bens não é mais punida,
desde que seja protegida sob o manto dos "movimentos sociais". O poder
público se omite e tenta acomodar a situação. O Brasil beira a afronta
institucional.
E enquanto tudo
isso ocorre, a chamada "sociedade civil organizada" apenas esboça
reação com inúteis mobilizações midiáticas que em geral posicionam-se
contra, corretamente, muitos aspectos de nossa vida institucional, mas
mostram-se incapazes de serem a favor de algo capaz de avançar na busca
de soluções efetivas. Mobilizam, sem propor. Deixam a impressão de terem
apenas objetivos políticos eleitorais.
Só uma revolução salva o Brasil. Revolução de ideias, e disposição para mudar.
Folha Política com 247
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