Fazendeiros farão leilão para financiar "resistência" contra indígenas
'De galinha a vaca OP [gado de Origem Pura', os recursos seriam destinados a ações de combate às ocupações de terras por indígenas no estado sul-mato-grossense
18/11/2013
Ruy Sposati,
de Campo Grande (MS)
Fazendeiros
do Mato Grosso do Sul irão leiloar "de galinha a vaca OP [gado de
Origem Pura]" para financiar a luta contra indígenas. Na última
quarta-feira (13), ruralistas se reuniram na Associação dos Criadores de
Mato Grosso do Sul (Acrissul), em Campo Grande, para organizar o
"Leilão da Resistência", evento cujos recursos serão destinados a ações
de combate às ocupações de terras por indígenas no estado.
Após
as mal-sucedidas negociações com o governo federal e indígenas,
produtores da região têm se pronunciado de maneira virulenta sobre a
questão fundiária no estado - e sobre quais serão os próximos passos dos
ruralistas na "resistência" contra o avanço das ocupações indígenas.
No
último dia 7, em reunião realizada na Acrissul, o presidente da
entidade, Chico Maia, disse: “a Constituição garante que é direito do
cidadão defender seu patrimônio, sua vida. Guarda, segurança, custa
dinheiro. Para entrarmos numa batalha precisamos de recurso. Imagine se
precisamos da força de 300 homens, precisamos de recurso para
mobilização”. Na reunião do dia 13, Chico afirmou que “novos confrontos
estão por vir e algo precisa ser feito para evitar novas mortes”.
O
vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso
do Sul (Famasul), Nilton Pickler, também veio à público corroborar a
leitura da Acrissul. “Estamos em uma terra sem lei, onde invadir
propriedade não é mais crime, alguma reação precisa ser feita”,
afirmou.
No início de novembro, um grupo de fazendeiros
permaneceu acampando próximo à ponte que dá acesso à terra indígena Yvy
Katu, em processo de demarcação há 29 anos e retomada pelos Guarani
Ñandeva em outubro. Durante o acampamento, ruralistas ameaçaram adotar
"medidas próprias" caso o governo federal não apresentasse proposta
concreta sobre o “litígio de terras” no estado. No local, circulavam
panfletos e adesivos que conclamavam "republicanos, liberais, (...),
empresários, militares (...), maçons" a dar um "basta ao marxismo
cultural", sob o slogan de "Pelo direito à propriedade: O Brasil que
produz reage!".
"Milícia privada"
Em
contexto de conflito envolvendo indígenas e fazendeiros, em novembro de
2011, a empresa de segurança privada Gaspem, que prestava serviços a
proprietários de terra sque incidem sobre território tradicional, foi
acusada de envolvimento na morte do rezador Guarani Kaiowá Nízio Gomes,
no tekoha Guaiviry, em Aral Moreira. Na denúncia, o Ministério Público
Federal do Mato Grosso do Sul (MPF-MS) classificou a ação da empresa
como “milícia privada”, exigindo a suspensão das atividades da
companhia.
"Índio morto não luta mais"
Além
dos fazendeiros, indígenas tem enfrentado a postura truculenta de
alguns policiais federais. Conforme relatado pelo Conselho do Aty Guasu,
organização política Guarani e Kaiowá do MS, o delegado da
Superintendência da Polícia Federal do Mato Grosso do Sul, Alcídio de
Souza Araújo, declarou que, se fosse preciso, chamaria a Força Nacional
para retirar os indígenas e observou que “índios mortos não lutam mais, o
sonho acabou”.
Em entrevista à Rede Brasil Atual, o
antropólogo Kaiowá Tonico Benites, do Conselho do Aty Guasu, afirma que o
delegado Araújo disse à comunidade que “se vocês estiverem em 4 mil
aqui, eu posso juntar 10 mil policiais, Força Nacional, para cumprir a
ordem judicial."
“Vocês, índios, vivos podem até cobrar
um milhão de reais pela morte de índio do governo, mas quem morreu já
morreu", disse. Depois concluiu: "Não sei na crença de vocês, mas na
minha crença só um homem ressuscitou, que é Jesus Cristo."
Com informações da Rede Brasil Atual, MPF-MS, Correio do Estado e Campo Grande News
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