Globo ensina Marina Silva a ser aceita pela Globo



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Num importante editorial, o jornal O Globo, de João Roberto Marinho, dá a receita para que a candidata do PSB seja admitida pelo establishment midiático; de acordo com a publicação, ela terá que dar uma guinada ao centro, como Fernando Henrique teria feito ao se aliar com Antônio Carlos Magalhães (o que, na verdade, foi uma guinada à direita) e Lula ao divulgar a Carta ao Povo Brasileiro, que o aproximou de empresários como José Alencar; para os Marinho, a escolha de Beto Albuquerque, financiado por empresas de transgênicos, armas e bebidas, já foi um passo nessa direção; no entanto, as contradições emergem; "ele e Marina fazem a aliança da gasolina com a caixa de fósforos", adverte o Globo, antes de concluir que  "nem tudo que é inflamável explode"
23 de Agosto de 2014 às 16:01
247 - As Organizações Globo publicaram, neste sábado, um editorial que ensina o que a candidata Marina Silva, do PSB, deve fazer para ser aceita pelas Organizações Globo e, assim, quem sabe, ter o direito de governar o Brasil.
Para o jornal O Globo, capitaneado por João Roberto Marinho, o caminho é dar uma "guinada ao centro". Os exemplos históricos citados são as alianças de Fernando Henrique Cardoso com Antônio Carlos Magalhães – o que, na verdade, foi uma aliança com um personagem já de centro com uma liderança da direita – e a Carta ao Povo Brasileiro, assinada pelo PT, antes da chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder.
De acordo com a família Marinho, Marina já dá sinais de pragmatismo, lembrando que ela aceitou como vice o deputado Beto Albuquerque (PSB/RS), financiado por fabricantes de armas, bebidas e sementes transgênicas. "Numa ironia, pode-se dizer que ele e Marina fazem a aliança da gasolina com a caixa de fósforos. Mas nem tudo que é inflamável explode", diz o editorial. 

Leia, abaixo, a íntegra:
Marina Silva ajusta percurso para campanha
As cartas de navegação da política brasileira apontam para a necessidade de uma guinada ao centro, como fez Lula com a Carta ao Povo Brasileiro e FH, com o PFL
Não demorou para a acomodação de terreno no PSB, com a troca forçada de Eduardo Campos por Marina Silva, causar os primeiros abalos — até previsíveis. Logo após a confirmação da candidatura de Marina à Presidência, dois integrantes da Executiva do partido deixaram a campanha, Carlos Siqueira e Milton Coelho. Saíram atirando, principalmente Siqueira, primeiro-secretário do partido. Mudança tão repentina em meio a uma tragédia haveria de causar atritos.
Se há dificuldades de setores da legenda em aceitar alguém de passagem, cujo destino é um partido em formação, a Rede, também não se discute que inexiste alternativa ao PSB, inclusive diante do cacife eleitoral de Marina Silva. Mas também cabe à candidata fazer ajustes de rota: uma coisa é ser vice no partido “alheio”; outra, cabeça de chapa.
Marina Silva precisará obedecer às cartas de navegação da política brasileira e dar uma guinada ao centro. A que Lula executou em 2002, ao lançar a Carta ao Povo Brasileiro. E FH, ao se aliar ao PFL. A manobra, na realidade, já começou, na aceitação de Beto Albuquerque, do PSB gaúcho, como vice. Deputado federal, Beto trabalhou, no governo Lula, para a liberação das sementes transgênicas, contra a então ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Com trânsito fácil entre representantes da agroindústria — ao contrário de sua agora companheira de chapa —, Beto, candidato ao Senado até ser ungido vice, tem entre financiadores de suas campanhas fabricantes de agrotóxicos, de armas e de bebidas, vetados nos estatutos da Rede. Numa ironia, pode-se dizer que ele e Marina fazem a aliança da gasolina com a caixa de fósforos. Mas nem tudo que é inflamável explode.
Marina tem de ser flexível e, ao mesmo tempo, objetiva, para evitar mal-entendidos no partido e no eleitorado. É o que já fez ao deixar claro que acredita no convívio do agronegócio com o meio ambiente, na autonomia do Banco Central — e, para ser coerente, defende o combate à inflação, um dos flancos mais vulneráveis de Dilma. Reafirma o discurso de Eduardo Campos. Antes, ainda quando tinha na agenda apenas a criação da Rede, Marina já havia sido explícita na defesa do "tripé": inflação baixa, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal, o inverso do que praticou Dilma, daí a fragilidade da economia, o grande problema do projeto da reeleição para a presidente e o PT.
Na perspectiva de hoje, Marina poderá vir a ser difícil adversária de Aécio para ter a primazia de disputar o segundo turno com Dilma. Caberá ao tucano encontrar uma maneira de dizer, sem agredir Marina, que a coincidência de visões econômicas é apenas um aspecto na disputa no primeiro turno.
Ser “contra tudo isso que está aí" pode impulsionar uma carreira política, até ser decisivo para ganhar eleições. Mas não se governa com esta bandeira. Cabe uma reflexão profunda de Marina e sonháticos.

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