Brasileira lança livro em Paris sobre operários exilados durante ditadura
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Em seu novo livro, a jornalista e pesquisadora Mazé Torquato Chotil descreve a trajetória de operários exilados durante o regime militar no Brasil (1964-1985).
Divulgação
A jornalista e pesquisadora sul-mato-grossense Mazé Torquato Chotil, lançou nesta quarta-feira (27), na confederação sindical francesa CFDT, em Paris, o livro "L'Exil Ouvrier - La Saga des Brésiliens Contraints au Départ" (em tradução livre, "O Exílio Operário: A Saga dos Brasileiros Forçados a Partir"). Publicada em francês pela editora Estaimpuis, o livro deve ganhar em breve uma versão em português.
A obra, fruto de uma pesquisa de pós-doutorado na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris (Ehess), sob direção do antropólogo Afrânio Garcia Jr., trata do exílio de trabalhadores operários, camponeses, militares de baixa patente e sindicalistas militantes durante o período da ditadura militar brasileira, de 1964 a 1985. Para situar o leitor, a escritora também narra o contexto político e social mundial da época e faz um apanhado da história da América Latina a partir do momento da independência dos países.
Em entrevista a RFI, a escritora, que mora na França há mais de 30 anos, explicou que trabalhava como jornalista em Osasco (SP) em 1979, ano em que os exilados foram anistiados. O exílio de operários foi pouco tratado até hoje, ao contrário da partida forçada de artistas, políticos, jornalistas e estudantes durante a ditadura militar brasileira, o que a incentivou a pesquisar sobre o assunto.
No total, o regime militar prendeu 50 mil brasileiros no primeiro período da repressão política. Destes, 10 mil foram exilados no total. "O exílio operário é pequeno e representa menos de 20% do total", explica. Entre a mostra apurada pela pesquisadora, antes de deixar o Brasil, 30% eram operários, 22% empregados de serviços administrativos, 13% militares de baixa patente, 10% técnicos, 7% trabalhadores em serviços de venda e 6% trabalhadores de serviços de manutenção, 5% de trabalhadores rurais e 4% exerciam atividades informais.
Trajetória dos exilados
A autora se focou menos na militância política dos exilados operários e mais na trajetória deles desde a saída do Brasil até a chegada no estrangeiro. São relatos dessas experiências que ela apresenta no livro.
"Minha pesquisa se concentrou na vivência dessas pessoas. Na primeira fase do exílio, o destino eram os países latino-americanos. E, depois com o começo da ditadura a outros Estados na América do Sul, como o Chile, quis mostrar o que os exilados fizeram, por exemplo, para encontrar asilo nas embaixadas e para partir para a Europa, no segundo período do exílio. As dificuldades com a língua estrangeira, o frio, e encarar essa ideia de que não poderiam mais voltar para o Brasil."
Quatro anos de pesquisa
Para realizar a obra, foram necessários quatro anos de trabalho, pesquisa e análises de documentos que datam mais de 40 anos, dos quais muitos foram destruídos, e sobretudo buscas de testemunhos e entrevistas. "Comecei trabalhando nos arquivos do Dops [Departamento de Ordem Política e Social] para saber quem eram os exilados que interessavam a pesquisa. Passei dois anos em busca de trabalhos universitários sobre o assunto e vasculhando o que a imprensa havia noticiado sobre essas pessoas. Em seguida, passei para a fase das entrevistas", conta.
Nessa fase, a autora encontrou novas dificuldades. Primeiro para localizar as pessoas. Depois, muitas das testemunhas procuradas já haviam morrido, outras estavam doentes. Alguns dos exilados se negaram a relembrar uma parte dolorida do passado. No total, Mazé conseguiu realizar 43 entrevistas, das quais duas foram realizadas com filhos de exilados que não estavam mais vivos.
Um ponto em comum
Com a finalização do livro, Mazé descobriu um ponto em comum entre todos os exilados. "Pobre ou rico, intelectual, artista ou operário, não poder voltar para casa é uma experiência infeliz a todos", avalia.
A escritora se diz chocada ao ver, durante os protestos contra o governo da presidente Dilma Rousseff em março, brasileiros pedindo a volta da ditadura militar. "Eles não sabem o que é liberdade, o que é democracia. Li uma entrevista de uma professora do Rio de Janeiro que conta que seus alunos de 20 anos não sabem que houve um regime militar no Brasil. Espero que meu trabalho contribua para mostrar o que foi esse período", conclui.
"L'Exil Ouvrier - La Saga des Brésiliens Contraints au Départ" estará a venda em breve no site francês da Fnac e pode ser encomendado na página Facebook de Mazé Torquato Chotil.
https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4630259205618973421#editor
Em entrevista a RFI, a escritora, que mora na França há mais de 30 anos, explicou que trabalhava como jornalista em Osasco (SP) em 1979, ano em que os exilados foram anistiados. O exílio de operários foi pouco tratado até hoje, ao contrário da partida forçada de artistas, políticos, jornalistas e estudantes durante a ditadura militar brasileira, o que a incentivou a pesquisar sobre o assunto.
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No total, o regime militar prendeu 50 mil brasileiros no primeiro período da repressão política. Destes, 10 mil foram exilados no total. "O exílio operário é pequeno e representa menos de 20% do total", explica. Entre a mostra apurada pela pesquisadora, antes de deixar o Brasil, 30% eram operários, 22% empregados de serviços administrativos, 13% militares de baixa patente, 10% técnicos, 7% trabalhadores em serviços de venda e 6% trabalhadores de serviços de manutenção, 5% de trabalhadores rurais e 4% exerciam atividades informais.
Trajetória dos exilados
A autora se focou menos na militância política dos exilados operários e mais na trajetória deles desde a saída do Brasil até a chegada no estrangeiro. São relatos dessas experiências que ela apresenta no livro.
"Minha pesquisa se concentrou na vivência dessas pessoas. Na primeira fase do exílio, o destino eram os países latino-americanos. E, depois com o começo da ditadura a outros Estados na América do Sul, como o Chile, quis mostrar o que os exilados fizeram, por exemplo, para encontrar asilo nas embaixadas e para partir para a Europa, no segundo período do exílio. As dificuldades com a língua estrangeira, o frio, e encarar essa ideia de que não poderiam mais voltar para o Brasil."
Quatro anos de pesquisa
Para realizar a obra, foram necessários quatro anos de trabalho, pesquisa e análises de documentos que datam mais de 40 anos, dos quais muitos foram destruídos, e sobretudo buscas de testemunhos e entrevistas. "Comecei trabalhando nos arquivos do Dops [Departamento de Ordem Política e Social] para saber quem eram os exilados que interessavam a pesquisa. Passei dois anos em busca de trabalhos universitários sobre o assunto e vasculhando o que a imprensa havia noticiado sobre essas pessoas. Em seguida, passei para a fase das entrevistas", conta.
O ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco (SP), José Ibrahim, foi um dos entrevistados de Mazé. Ele faleceu em maio de 2013.
Mazé Torquato Chotil |
Nessa fase, a autora encontrou novas dificuldades. Primeiro para localizar as pessoas. Depois, muitas das testemunhas procuradas já haviam morrido, outras estavam doentes. Alguns dos exilados se negaram a relembrar uma parte dolorida do passado. No total, Mazé conseguiu realizar 43 entrevistas, das quais duas foram realizadas com filhos de exilados que não estavam mais vivos.
Um ponto em comum
Com a finalização do livro, Mazé descobriu um ponto em comum entre todos os exilados. "Pobre ou rico, intelectual, artista ou operário, não poder voltar para casa é uma experiência infeliz a todos", avalia.
A escritora se diz chocada ao ver, durante os protestos contra o governo da presidente Dilma Rousseff em março, brasileiros pedindo a volta da ditadura militar. "Eles não sabem o que é liberdade, o que é democracia. Li uma entrevista de uma professora do Rio de Janeiro que conta que seus alunos de 20 anos não sabem que houve um regime militar no Brasil. Espero que meu trabalho contribua para mostrar o que foi esse período", conclui.
"L'Exil Ouvrier - La Saga des Brésiliens Contraints au Départ" estará a venda em breve no site francês da Fnac e pode ser encomendado na página Facebook de Mazé Torquato Chotil.
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