Globo 50 anos de lavagem cerebral no Brasil
Globo se apresenta como vítima da censura em especial sobre os 50 anos
Nas comemorações dos 50 anos da Globo, o “Jornal Nacional” está exibindo esta semana uma retrospectiva sobre o jornalismo da emissora. Apresentada por William Bonner e comentada, em uma mesa redonda, por 16 profissionais da casa, a série tratou na segunda-feira (20) do período 1965-1974 e no dia seguinte dos anos entre 1975 e 1984.
O primeiro episódio, com 20 minutos de duração, dedicou menos de 90 segundos à ditadura militar, iniciada um ano antes da inauguração da emissora. Rapidamente, Bonner observou que “é impossível tratar do nascimento do ‘JN’ (ocorrido em 1º de setembro de 1969) sem tratar desse tema” e alguns jornalistas lembraram que o noticiário estava submetido a censura prévia na época.
No segundo episódio, por outro lado, censura e ditadura foram os temas principais. Nos primeiros cinco minutos, de um total de 22, Bonner lembrou cinco situações dramáticas, realçando sempre um mesmo ponto: a dificuldade do jornalismo da emissora de retratar a realidade por culpa da censura.
“As mortes tanto de Juscelino quando de Jango (ambas ocorridas em 1976) foram censuradas. Não se podia dizer, por exemplo, que Jango tinha sido cassado na cobertura sobre a morte dele”, disse. Já o repórter Francisco José observou: “Quantas vezes eu não tentei chegar junto desse general (Ernesto Geisel, presidente entre 1974 e 79) nas visitas que ele fazia para aparecer na seca, mas ele não falava. Na hora em que eu tentava falar, eles afastavam. Isso aconteceu várias vezes, em todos os Estados do Nordeste.”
Bonner se vangloriou que, em 1979, promulgada a lei da anistia, o “JN” exibiu reportagens mostrando a volta de alguns exilados, como Betinho, Leonel Brizola e Fernando Gabeira. “Isso foi pro ar, foi ao ar na televisão”, festejou.
O repórter Ernesto Paglia lembrou a cobertura das greves no ABC paulista, ocorridas naquele período: “Nós ainda vivíamos sob alguma forma de censura… Pressões para que a Globo não noticiasse o movimento. Nós tínhamos 30 segundos para colocar aquilo no ar. Não era uma censura, tipo ‘não pode falar da greve’, mas é óbvio que em 30 segundos você é obrigado a resumir e o peso que aquilo tem na cobertura é muito menor.”
Por fim, Andre Luiz Azevedo comentou a cobertura do atentado ao Riocentro, em 1981: “Havia essa disputa entre abertura e o fechamento e a gente cobria esse fato dando a versão oficial; claro, a gente era obrigado a dar. Mas sempre demonstrando, como nesse caso do Riocentro, como essa era uma mentira deslavada, onde os fatos eram grosseiramente forjados.”
Não vi inverdades neste relato, mas é uma narrativa destinada a convencer o espectador de que a Globo foi vítima – e não aliada – do regime militar que dirigiu o país entre 1964 e 1985. O especial omite muitos fatos que poderiam deixar esta narrativa mais equilibrada. Cito um: o programa “Amaral Neto, o Repórter”, por exemplo, que por 15 anos (1968-1983) ocupou espaço na grade da emissora louvando os feitos do governo.
Nos últimos sete minutos do especial de terça-feira, Bonner tratou de um erro a respeito do qual figuras da emissora já fizeram “mea culpa” público há anos: a timidez e a omissão de fatos no início da cobertura da campanha pelas eleições diretas para presidente, a partir de 1983.
O fato-símbolo desta postura foi a apresentação de uma reportagem sobre um comício em São Paulo, em janeiro de 1984. “Um dia de festa em São Paulo”, disse o apresentador Marcos Hummel. Bonner explicou: “Isso aí foi visto durante muitos anos como uma tentativa da Globo de esconder as Diretas. E, obviamente, depois de muitos anos também, foi reconhecido como um erro.”
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