Jovens quilombolas na Bahia usam celular para enviar reportagens
A
iniciativa é pioneira no país e tem possibilitado a estes jovens enviar
conteúdos para a Internet por meio de celulares de baixo custo, sem
acesso à rede
Redação Correio Nagô – Jovens de comunidades quilombolas da Ilha de Maré que estão fazendo reportagens, por meio do celular e dando voz às necessidades e anseios da população do local onde vivem. Assim pode ser definida a participação de 20 jovens da comunidade quilombola Porto dos Cavalos que recebem, nesta sexta-feira (25), às 13h, a certificação do projeto “Vojo Brasil: ampliando vozes quilombolas por meio do celular”.
Realizada pelo Instituto Mídia Étnica (IME), em parceria com o Center for Civic Media, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), a iniciativa é pioneira no país e tem possibilitado a estes jovens enviar conteúdos para a Internet por meio de celulares de baixo custo, sem acesso à rede.
Durante a certificação, o IME vai exibir um vídeo com os resultados do projeto e os próximos passos da iniciativa. A ação atua no sentido de empoderar jovens quilombolas para que estes possam fazer o mapeamento das violações que sofrem e utilizar o celular para se comunicarem de maneira rápida e interativa com outros blogueiros e meios de comunicação.
A iniciativa, que é um projeto piloto, pretende se espalhar para outras comunidades tradicionais que possuem pouco, ou nenhum, acesso a internet, como comunidades em zonas rurais remotas, indígenas, ocupações habitacionais e demais grupos vulnerabilizados e excluídos da produção de informação.
A tecnologia VOJO possibilita a qualquer pessoa possa criar e atualizar um blog mesmo que este não possua computador ou internet em seu aparelho de celular. A ferramenta permite envio de reportagens de áudio por celulares de baixo custo e até mesmo de telefones públicos. No caso do uso do celular, ainda pode-se enviar fotos e vídeo.
A ideia do projeto é possibilitar jovens de comunidades o acesso à tecnologias e conectar as diversas comunidades em torno de uma rede para que possam se articular e buscar maior visibilidade, perante a opinião pública, em relação as suas demandas sociais, culturais e políticas. O projeto conta com o apoio do MIT, por meio do seu corpo técnico de pesquisadores do Media Lab, um dos maiores centros de excelência em tecnologia do mundo.
“Um dos principais obstáculos que o país precisa superar é o de envolver plenamente a sua população historicamente marginalizada no processo de desenvolvimento, democratizando o uso das tecnologias. A ferramenta pode possibilitar o envio de dados para a internet em comunidades remotas e socialmente marginalizadas em todo o país. O Vojo vai fazer também com que as comunidades possam divulgar suas demandas diretamente para o mundo”, destaca Paulo Rogério Nunes, diretor executivo do Instituto Mídia Étnica.
Com quase oito anos de atuação, o Instituto Mídia Étnica é uma organização social que desenvolve projetos no campo da comunicação e diversidade e é responsável por diversas ações de comunicação comunitária e jornalismo cidadão, como o portal Correio Nagô (www.correionago.com.br).
Funcionamento – Um total de 20 jovens de comunidades remanescentes de quilombo da Ilha de Maré, Salvador, foram treinados na metodologia. A primeira experiência prática foi a cobertura da III Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial (III CONEPIR). Utilizando seus aparelhos celulares, os jovens fizeram entrevistas e fotos com os participantes e postaram nas mídias sociais. Os quilombolas das comunidades de Bananeiras, Martelo, Porto dos Cavalos, Maracanã e Praia Grande integram o projeto Vojo.
A tecnologia Vojo foi criada originalmente com o projeto VozMob para ser usada por imigrantes latinos nos EUA e, em parceria com o Instituto Mídia Étnica, foi testada pela primeira vez com trabalhadoras domésticas brasileiras residentes em Boston. O projeto integra as estratégias de uso das novas tecnologias para consolidação de uma comunicação comunitária e cidadã do portal Correio Nagô (www.correionago.com.br).
Para Fredson Santana, participante do projeto, falando sobre a iniciativa em depoimento na plataforma diz que o projeto é “fundamental”. O jovem, ao lado de Érica de Jesus, estiveram no mês passado em São Paulo em uma atividade da Secretaria Nacional da Juventude falando sobre o projeto para ativistas de todo o Brasil.
Segundo Luciane Neves, publicitária e uma das coordenadoras do projeto. “além da tecnologia VOJO, os jovens tiveram palestras sobre Gênero, DST/AIDS, Identidade Negra, Democratização da Comunicação e Técnicas de Jornalismo. Depois do treinamento, a ideia é que eles possam replicar a tecnologia para outras comunidades de Salvador e outras partes do Brasil.
Ilha – Segundo dados da pesquisa “Urbanização (In)sustentável em Ilha de Maré: Estudo de Caso da Vila de Santana”, da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, a Ilha de Maré localiza-se a cerca de 5 km de São Tomé de Paripe, subúrbio de Salvador, possui uma população de 5.712 habitantes (dados do IBGE, 2000), distribuída em uma área de 1.378,57 ha ou 13,79 km2.
Fonte: http://correionago.com.br/portal/jovens-quilombolas-na-bahia-usam-celular-para-enviar-reportagens/
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